COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
As CEBs e a promoção da cultura da paz: desafios éticos e ecumênicos-Magda Melo
1- As CEBs e a ligação Fé-Vida
"A inserção nas lutas populares pela libertação tem sido - e é - o início de um novo modo de viver, transmitir e celebrar a fé para muitos cristãos da América Latina.Provenham eles das próprias camadas populares ou de outros setores sociais, em ambos os casos observa-se - embora com rupturas e por caminhos diferentes - uma consciente e clara identificação com os interesses e combates dos oprimidos do continente. Esse é o fato maior da comunidade cristã da América Latina nos últimos anos. Esse fato tem sido e continua sendo a matriz do esforço de esclarecimento teológico que levou à teologia da libertação"[1].
a) Um novo modo de viver a fé. A Igreja assume os novos desafios do mundo de hoje. Os cristãos, movidos pelo Espírito do Ressuscitado abrem-se para os problemas do mundo.
b) Um novo modo de transmitir a fé. Uma nova leitura popular e ecumênica da Bíblia; uma nova forma de fazer teologia e uma nova catequese, fazendo a ligação fé-vida.
c) Um novo modo de celebrar a fé. A partir da ligação fé-vida, a liturgia expressa-se a partir das diferentes culturas e celebra as lutas em defesa da vida, com grande respeito pela alteridade do outro.
2- CEBs: Consciência de ser povo portador de uma mensagem de salvação-libertação
A mensagem fundamental da Igreja é o Evangelho de Jesus Cristo. Por isso, a missão do Povo de Deus é a de Evangelizar. A mensagem da salvação-libertação deve atingir todas as dimensões da vida humana: econômica, política, cultural, pedagógica, erótica-sexual, litúrgica e ecológica.
3- CEBs: Consciência do serviço-solidariedade universal
A experiência das Cebs consiste em reconstruir uma Igreja da misericórdia, que faz descer da cruz os povos crucificados numa solidariedade universal, sobretudo com os pobres e excluídos, contribuindo na construção de uma cultura da paz.
As Cebs são a expressão do grande sonho-desejo expresso por Jesus: "Que todos sejam um"! A dimensão ecumênica e macro-ecumênica tem sido na América Latina fruto nascido do serviço comum à missão libertadora da comunidade eclesial. Essa dimensão abre o caminho para o reconhecimento da alteridade e a beleza das diferenças, exigindo nova reflexão sobre as questões étnicas, de gênero, de geração e das relações de classe. Estamos num novo momento de aprendizagem, onde a nova hospitalidade exige hospedar os outros dentro de nós[2]. O respeito pela alteridade aponta para o desafio da inculturação libertadora e a construção de um projeto de Igreja ecumênico, aberto às diferenças e ao diálogo num mundo plural [3]e que tenha os pobres como seu referencial básico.
4- As dimensões do ecumenismo nas CEBs
a) O cuidado de viver a fé de forma ecumênica
As Cebs não vivem sua vocação ecumênica apenas quando têm relacionamento direto com irmãos de Igrejas diferentes. Por isso, as Cebs desenvolveram um modo de explicar a fé, a catequese, de viver a liturgia e de cultivar a espiritualidade usando sempre uma linguagem amorosa e respeitosa com os outros.
b) A profecia da inclusão macro-ecumênica
Na tradição das Igrejas, convencionou-se chamar de ecumenismo o movimento pela unidade das Igrejas cristãs. Já a relação com outras religiões ocupa o setor específico do diálogo inter-religioso. Na América Latina, desde 1992, tem-se usado o termo “macro-ecumenismo” para falar da busca de diálogo e cooperação que vai além das Igrejas e inclui as outras religiões e culturas, principalmente as do povo mais oprimido.
Durante cinco séculos e até hoje, em grande parte, as religiões indígenas e de matriz africana foram perseguidas e condenadas pelas Igrejas como sendo idolátricas e mesmo demoníacas. Por sua espiritualidade de abertura, as Cebs sempre acolheram pessoas de culturas religiosas indígenas e negras e, há anos, busca também o direito dos cristãos dessas culturas autóctones expressar de forma livre e própria a sua fé cristã, o que não é fácil em nossas Igrejas ainda tão fortemente europeizadas.
c) O diálogo - As CEBs no mundo ecumênico brasileiro
As Cebs querem ser um novo modo de ser Igreja ou um novo modo da Igreja ser. As Cebs católicas fazem questão de não ser uma Igreja a parte e sim o coração da Igreja Católica. A coincidência de objetivos entre as Cebs e grupos evangélicos poderia aproximá-los. Infelizmente, isso não ocorre. A cultura religiosa de base de cada comunidade é muito diferente e ainda afasta muito. Evangélicos individuais procuram as Cebs e se sentem bem nos grupos bíblicos, mas os contatos ecumênicos entre comunidades e Igrejas é mais difícil.
[1] GUTIÉRREZ,G., A força histórica dos pobres, Petrópolis, Vozes, 1981, p. 245.
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